Igreja de N. Sra. do Livramento

A igreja de Nossa Senhora do Livramento, tradicionalmente apelidada de Catedral Velha, situa-se na cidade de Quelimane, província da Zambézia, Moçambique. A sua implantação na malha urbana da cidade concede-lhe uma localização privilegiada, junto da margem do rio dos Bons Sinais.

A falta de informação nos Arquivos Históricos sobre a construção e evolução da igreja leva-nos a recorrer a Cadastros de Propriedade do Estado da década de 60, do século XX.

  • “Força para este movimento para resgatar um importante património cultural e histórico da Zambézia.”

    Abdul Razak
    • Abdul Razak
    • Governador da Província da Zambézia
  • “É para mim uma alegria enorme apoiar um movimento para recuperar o mais valioso património da nossa cidade.”

    Manuel Araújo
    • Manuel Araújo
    • Presidente do Conselho Municipal de Quelimane
  • “Esta igreja antiga é um símbolo da cidade; gerações nela oraram, receberam o seu baptismo ou celebraram o seu casamento. Salvá-la é um dever de todos.”

    Dom Hilário da Cruz Massingue
    • Dom Hilário da Cruz Massingue
    • Bispo de Quelimane
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  • “Força para este movimento para resgatar um importante património cultural e histórico da Zambézia.”

    Abdul Razak
    • Abdul Razak
    • Governador da Província da Zambézia
  • “É para mim uma alegria enorme apoiar um movimento para recuperar o mais valioso património da nossa cidade.”

    Manuel Araújo
    • Manuel Araújo
    • Presidente do Conselho Municipal de Quelimane
  • “Esta igreja antiga é um símbolo da cidade; gerações nela oraram, receberam o seu baptismo ou celebraram o seu casamento. Salvá-la é um dever de todos.”

    Dom Hilário da Cruz Massingue
    • Dom Hilário da Cruz Massingue
    • Bispo de Quelimane
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 O início da história 

A igreja terá sido construída entre 1776 e 1786, por ordem do Governador e Capitão General Baltazar Pereira do Lago. Uma lápide do lado esquerdo da porta de entrada na igreja atesta que o seu impulsionador faleceria antes da obra concluída, provocando uma pausa na sua construção até cerca de 1786, altura em que se reiniciaram e finalizaram as obras por ordem do novo governador António Manuel de Mello e Castro.

“SENDO GOV.or E CAP.om GEN.al DESTE EST.º O EX.mº BALTHEZAR MANOEL PER.ª DO LAGO MANDOU FAZER ESTA IGREJA NO ANNO DE 1776 Q FICANDO P.r SUA MORTE IMPERFEITA E PARADA ATÉ O DE 1786 EM QUE GOVERNANDO O MESMO EST.º O EX.mº ANTONIO MANOEL DE MELLO E CASTRO A MANDOU ACABAR &ª”.

1. Imagem referente à lápide da entrada e respectivo texto lá gravado.

 Planta da igreja 

As primeiras referências sobre a igreja reportam-se à sua hipotética construção em alvenaria de pedra vinda da Índia, no entanto, a sua deterioração deixou exposto o material com a qual foi efectivamente construída, tijolo artesanal da época, certamente de proveniência local, mas nunca alvenaria de pedra oriunda da Índia.

A planta da Direcção Provincial de Obras Públicas da Zambézia datada de 1944, baseia-se no levantamento da igreja realizado em 1902, que se encontraria nos arquivos da Paróquia. O facto mais relevante é a ausência, em planta, de dois anexos que hoje se situam no lado nascente da igreja, podendo concluir-se que são posteriores ao dito levantamento.

É uma igreja de planta longitudinal, uma só nave e sem transepto. O acesso faz-se por uma escadaria, visto ter sido construída sobrelevada em relação ao piso da rua do lado poente.

A nave da igreja tem 17m de comprido, por 6,40 de largura, seguida do altar-mor com largura semelhante e 7,80m de comprimento.

A fachada da igreja ostenta um portal de empena triangular, ornamentado por volutas e com ornamento estrelado. Nas extremidades da fachada duas torres sineiras de formato quadrangular, cada um com 3,80m de lado. As torres sineiras são rematadas por cúpula com lanterna, a torre da esquerda albergaria dois sinos, e no seu piso térreo localizar-se-ia a pia baptismal, existindo um vão de acesso à mesma pelo interior da igreja.

A torre da direita teria três sinos e, segundo o Cadastro de Propriedade do Estado, teriam sido fundidos em Lisboa, no ano de 1868. Os sinos de ambas as torres desapareceram entretanto. Ainda nesta torre se localizam as escadas de que nos levam ao coro-alto. A entrada faz-se por uma porta lateral exterior ao edifício, uma vez que a porta interior foi entaipada em momento desconhecido.

 Coro-alto e cobertura 

O coro-alto localiza-se por cima da porta de entrada da igreja, corre toda a largura da nave, tem 2m de largura e é encimado por um óculo redondo. Esta estrutura de madeira está apoiada por encastramento nas paredes e por um arco de volta perfeita.

Desconhece-se o sistema de cobertura primitivo da igreja, exteriormente é de telha marselhesa e interiormente forrada a madeira.

A cabeceira está separada da nave por um arco diafragma, é rectangular e em profundidade, é ladeada por duas sacristias com 7,80m de comprido e 3,50m de largura. Os dois vãos inferiores na parede nascente serão posteriores a 1902, marcadamente neo-góticos. Ao centro, a um nível superior um óculo.

No prolongamento das sacristias da cabeceira, existem dois anexos, certamente de construção posterior à da igreja. O da esquerda encontra-se em ruínas, enquanto o da direita ainda está ao culto.

No interior da cabeceira existe um retábulo simples muito deteriorado, provavelmente original. O acesso ao mesmo faz-se por três degraus à largura da cabeceira. A qualidade do mesmo é sofrível não possuindo do ponto de vista artístico valor relevante.

Presentemente, ainda restam os dois pequenos altares de alvenaria e madeira localizados no ângulo das paredes da capela-mor com o corpo da igreja.

A partir da planta de 1944 é possível verificar a existência de um púlpito na nave do lado da Epístola e, segundo o Cadastro de Propriedade do Estado, este seria de madeira. Hoje restam somente os suportes de fixação. Do lado do Evangelho existiu um altar, onde também são perceptíveis os vestígios da sua presença. Não possuindo imagens destes elementos torna-se difícil realizar qualquer análise artístico-material.

Na nave, de frente para o altar-mor, estão localizadas quatro sepulturas, de pedra mármore, duas delas encontram-se com a pedra partida e as suas inscrições foram destruídas pelo tempo e vandalismo. As sepulturas datam da segunda metade do século XIX. É perceptível que numa delas está sepultado um padre vigário de Quelimane, Pe Manuel Nazaré, e outras duas estarão duas crianças e finalmente, na última não se consegue perceber quem seria a pessoa em causa. Provavelmente, estes locais de enterramento estiveram reservados a pessoas proeminentes de Quelimane ou seus descendentes.

As sacristias da igreja encontram-se vazias e em ruínas. Numa delas, encastrada na parede, subsiste um lava-mãos de pedra, provavelmente original. Destaca-se pela sua simplicidade, com ornamento em concha, típico da época.

 Obras de arte 

O abandono da igreja levou ao desaparecimento e deslocação das suas obras de arte. Entre as esculturas e pinturas desaparecidas, subsistiram algumas, agora em museus moçambicanos, como o de Lourenço Marques.

Uma escultura tardo barroca de Nossa Senhora do Livramento, com cerca de 2m de altura encontra-se, actualmente, no Museu de Lourenço Marques. Esta obra tem origem portuguesa e terá sido feita numa oficina lisboeta.

Foram restaurados na década de 50 do século XX pelo Museu Nacional de Arte Antiga, e já estava previsto não regressarem à igreja após o restauro, na medida em que o Governador Geral de Moçambique, em 1952, em carta dirigida ao Ministro do Ultramar refere que os quadros depois de restaurados se destinariam ao Museu Histórico-Militar a ser instaurado em Lourenço Marques.

Texto retirado do projeto de

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Camilo Cortesão & Associados Arquitectos Lda.
Av. da Boavista, 209 PORTO

 É urgente salvá-la! 

Um património valioso à beira da ruína.

por António Leitão Marques

A Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Quelimane, erguida diante do Rio dos Bons Sinais é um património histórico de grande valor.

A sua edificação deu-se no Séc. XVIII, estimando-se que tenha sido concluída em 1786.

Na África portuguesa não há muitos edifícios dessa época e por isso foi proclamado monumento nacional em 1943.

Funcionou como Igreja até 1974, altura em que, com a construção da nova catedral, foi perdendo importância e sendo votada ao abandono.

A sua degradação tem sido rápida, começando já o telhado a desaparecer e fendas a abrirem-se nas paredes laterais, dando lugar à invasão pela vegetação circundante.

Quem teve a oportunidade de a visitar recentemente, não fica indiferente a esta situação.

Há um risco eminente de este edifício ruir e desaparecer irremediavelmente, perdendo-se aquele que é seguramente o património mais valioso da cidade.

Alguns esforços para o salvar têm infelizmente deparado com dificuldades financeiras, não tendo, quer a Diocese quer o Município, capacidade, por si sós, de recuperar este património.

Mas acreditamos que em conjunto podemos ir mais longe e gerar um movimento solidário de recolha de fundos que permita uma intervenção salvadora, assegurando que o monumento continue de pé como símbolo da cidade.

É nosso dever deixar às próximas gerações um pouco do seu passado.

A Associação dos Bons Sinais juntamente com a Diocese e com apoio do Município de Quelimane e o Governo da Zambézia quer concretizar rapidamente um plano de recuperação do edifício e iniciar estas obras o mais depressa possível.

A cidade de Quelimane irá fazer as suas bodas de diamante no dia 21 Agosto de 2017.

Esta é a prenda que gostaríamos de lhe dar!

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